terça-feira, 12 de abril de 2011

Estado imaginário

Sentiu-se estranhamente feliz, sem saber muito bem o motivo. Precisava saber, só assim conseguiria repetir esse momento. Na verdade, nem acreditava muito nessa história de felicidade. “É um estado imaginário” costuma repetir, ao som do Barão Vermelho. Achava que conseguiria alcançá-lo independente do que estivesse à sua volta, preferia acreditar nisso.
Estava numa fase de busca de amizades. Não conseguia mais lidar com o fato de ter tanta gente em volta e poucas delas serem pessoas com quem podia contar de verdade. Passou a valorizar aquele que não aparecia tanto na roda de amigos, mas que era o primeiro a perceber quando alguma coisa não estava bem e tentar ajudar. Notava mais as sutilezas do comportamento dos outros, a fim de saber quem era mais parecido com ele. Pensou, por um instante, que essa felicidade viria daí.
Desde que andava muito ocupado não ouvia música alta, se contentava com o fone no caminho do trabalho ou mesmo com o computador num volume baixo. Com a falta, notou que era uma das coisas que o fazia se sentir vivo. As letras, os riffs, tudo muito alto devolvia aquele brilho no olhar que a cidade tentava apagar. Quem sabe daí viria a felicidade?
Olhava seu caderno cheio de anotações que preferiria que ninguém lesse. Viu ali passagens de sua vida, não fatos, momentos psicológicos. Guinadas de pensamento. Engraçado como qualquer lugar servia pra depositar no papel a confusão que era o seu pensamento. Ler aquilo tudo depois de certo tempo trazia uma nostalgia, saudade mesmo, mas não dor. Talvez fosse a válvula de escape do que não conseguia, ainda, dividir com a humanidade. “Que bom se ser feliz depender só disso”, pensou.
Ali, perdido nesses devaneios, se deu conta que esse “ser feliz” já passou. Lembrava, sim, que tinha milhões de coisas pra fazer, mas aquela brisa passou. Talvez fosse apenas um lapso de esperança na vida, passageira. Afinal, a felicidade é um estado imaginário.

sábado, 9 de abril de 2011

Gente I

Gosto de gente que sabe ser flexível sem perder sua essência. Não ser chato a ponto de se tornar insuportável, nem complacente o suficiente para mudar suas certezas.
Gente que, mesmo tendo a convicção que tem poucos e bons com quem pode compartilhar sua parte mais viva, dividi bons momentos com os demais.
Presto atenção em quem não faz distinção da calçada mais suja ou do mais sofisticado dos lugares, desde que tenha gente legal com um violão.
Me fascina quem consegue surpreender, ir além dos estereótipos que ainda insistem em usar.
Fico feliz em saber que alguém consegue ficar horas ouvindo aquele disco clássico e ter uma sensação diferente a cada vez que o faz. Ou então que, mesmo já tendo um livro muitas vezes, tem a sensibilidade de perceber um significado no qual ainda não tinha pensado.
Penso "pô, que bacana" quando vejo alguém se preocupando em jogar aquele pacote de qualquer coisa no lixo "Que bacana".
Tenho vontade de conversar com anda sempre com um fone de ouvido. Quem (con)vive com a música deve ter algo parecido comigo.
Procuro de ser amigo de quem não tem um milhão de amigos. Alguma coisa me diz que não é possível serem todos de verdade.
Aquela menina quase imperceptível para os outros, é muito perceptível pra mim.
Gente que dá lugar na fila.
Gente que prefere Heineken, mas tá aí pro que vier.
Gente que não abusa no uso de emoticons.
Ganho o dia quando um desconhecido sorri na rua. No geral, eles fingem que nem viram.
Respeito quem tem o dom de não levar tudo à sério. Sabe entender e relevar uma frase torta e não fazer drama com bobagens.
Gosto de quem simplesmente senta... e conversa.
Busco aqueles que alternem altas doses de animação de sábado à noite com suaves porções de melancolia de domingo à tarde.

"Tem que ter um som legal. Tem que ter gente legal. E ter cerveja barata.
Um lugar onde as pessoas sejam mesmo afudê."
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